Um ciclo vicioso entre desigualdade e pandemias é o centro de um novo relatório global. O documento “Rompendo o ciclo da desigualdade – pandemia” foi lançado em português durante reunião da Unaids. O momento é crucial, pois define a estratégia global contra a Aids para 2026-2031, em um cenário de redução de recursos internacionais.
O Brasil preside atualmente o conselho da Unaids. A agência da ONU alerta para um recrudescimento no financiamento de tratamentos e pesquisas, agravado por cortes na assistência de países como os Estados Unidos.
Desigualdade é uma escolha política que alimenta surtos, afirma estudo
“A desigualdade não é inevitável. É uma escolha política – e uma escolha perigosa”, declarou Monica Geingos, ex-primeira-dama da Namíbia e integrante do conselho. O relatório, baseado em dois anos de pesquisas, evidencia que sociedades mais desiguais são mais vulneráveis a surtos.
Segundo o estudo, altos níveis de desigualdade facilitam a disseminação de doenças e dificultam as respostas. Como resultado, as pandemias se tornam mais longas, letais e disruptivas. Esse padrão se repetiu na Covid-19, Aids, Ebola e Mpox.
Pandemias ampliam disparidades e criam um ciclo perverso
O documento é claro: as pandemias não apenas surgem em contextos de desigualdade, mas também a aprofundam. O risco de morte é maior em sociedades desiguais. Por outro lado, a redução da pobreza aumenta a resiliência das comunidades.
Um exemplo atual é o acesso a novas tecnologias. Injeções de longa duração para prevenir o HIV já estão disponíveis, mas a questão econômica ainda determina sua difusão. A concentração de renda agravada pela Covid-19 torna esse cenário ainda mais crítico.
Quatro recomendações para quebrar o ciclo
O conselho propõe uma abordagem de Prevenção, Preparação e Resposta (PPR) baseada em quatro pilares:
- Reorganizar o sistema financeiro: renegociar dívidas e repensar o financiamento de emergência, abandonando políticas de austeridade.
- Investir na prevenção: atacar os determinantes sociais das pandemias com mecanismos de proteção social robustos.
- Fortalecer a produção local: criar nova governança em pesquisa e desenvolvimento, tratando o compartilhamento de tecnologias como bem público.
- Construir confiança e governança multissetorial: unir sociedade civil e governos para respostas mais equitativas e eficientes.
O caminho, portanto, exige ação conjunta. “Precisamos agir juntos contra as desigualdades, as quais tornam as pandemias mais prováveis, letais e custosas”, conclui um especialista do conselho.






