O automóvel é o meio de transporte mais utilizado pelos brasileiros para ir ao trabalho, segundo dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta quinta-feira (09) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, 32% das pessoas que se deslocam pelo menos três vezes por semana até o local de trabalho usam o carro, superando os 21,4% que utilizam o ônibus. Em seguida, estão os que vão a pé (17,8%).
Para o analista do IBGE, Mauro Sergio Pinheiro de Sousa, os números revelam os reflexos de um modelo histórico de mobilidade urbana. “O Censo mostra os gargalos e as dificuldades do Brasil, com um histórico que privilegiou o automóvel em detrimento de outros meios de transporte, e evidencia carências do transporte público, especialmente nas grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Brasília”, avaliou.
Tempo médio de deslocamento no Brasil
Essas deficiências se refletem no tempo de deslocamento diário dos trabalhadores. Em média, 57% dos brasileiros levam entre 6 minutos e meia hora para chegar ao trabalho — cerca de 40 milhões de pessoas. No Sudeste, esse percentual é de 53%, e nas maiores cidades do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, cai para 36%.
Na outra ponta, 12,6% dos trabalhadores levam mais de uma hora para completar o trajeto. O percentual sobe para 27,9% em São Paulo e 29,8% no Rio de Janeiro. A Região Metropolitana do Rio lidera o ranking de longos deslocamentos, com 11 municípios entre os 20 do país com maior proporção de trabalhadores que gastam mais de duas horas no trajeto. Em Queimados, recordista nacional, 12,5% dos trabalhadores levam pelo menos duas horas para chegar ao trabalho — muito acima da média nacional de 1,8%.
Desigualdades sociais refletem no tempo de trajeto
O Censo também revelou que desigualdades raciais e sociais estão diretamente relacionadas ao tempo de deslocamento. Enquanto 16,4% das pessoas negras e 12,2% das indígenas levam pelo menos uma hora para chegar ao trabalho, entre as pessoas brancas o índice é de 10,4%. Além disso, rendas domiciliares mais altas estão associadas a tempos menores de trajeto.
A diferença também é visível nos meios de transporte utilizados. Entre as pessoas brancas, 42,9% vão de automóvel, mais que o dobro da proporção entre pessoas pretas, que preferem o ônibus (29%). O uso do carro cresce conforme o nível de escolaridade: 57,8% dos trabalhadores com ensino superior completo usam automóvel, enquanto entre os que têm ensino médio o índice cai para 28,6%. Já entre os que têm apenas o ensino fundamental, o principal meio é a pé (25,6%).
Ônibus e trem concentram trajetos mais longos
O IBGE também cruzou informações entre tempo de deslocamento e meio de transporte. O estudo mostra que 70% dos usuários de ônibus levam pelo menos 30 minutos no trajeto, enquanto 52,2% dos que utilizam trem ou metrô demoram mais de 1 hora para chegar ao trabalho.
Maioria dos brasileiros trabalha no mesmo município
Outro dado revelado pelo Censo é que, em 2022, 88,4% dos brasileiros trabalhavam no mesmo município de residência — sendo 71,4% em outro local dentro da cidade e 16,9% em casa ou na própria propriedade. Por outro lado, 10,7% precisavam se deslocar para outro município, e 7,9 milhões faziam esse percurso pelo menos três vezes por semana.