O coração do Oeste catarinense, Xaxim — município com cerca de 30 mil habitantes, segundo dados do IBGE 2022 — guarda uma das histórias mais emocionantes e duradouras da cultura do estado: a trajetória do Coral Arautos do Grande Rei. Criado em 1972 pelo Frei Alfonso Vicente Vogel, o grupo nasceu dentro da Paróquia São Luiz Gonzaga com uma missão que ia além da música: formar pessoas através da arte, da disciplina e da fé.

Internacional de Coros em Munique. (Fonte: Acervo do Coral).
Mais do que um grupo musical, o coral tornou-se uma verdadeira escola de vida. Centenas de crianças e jovens encontraram ali um espaço de aprendizado, convivência e expressão, em ensaios diários conduzidos com paciência e ternura por Frei Afonso — que via na música um instrumento pedagógico e espiritual. O coral era um espaço de formação humana. Cada ensaio era também um momento de confraternização e aprendizado. “(…) muito aprendizado! Cantávamos em alemão, inglês, italiano – isso nos anos oitenta! Éramos crianças do interior que, sob a regência do Frei Afonso, aprendemos que com dedicação, preparação, ensaio podíamos executar qualquer coisa. E isso certamente moldou o comportamento de muitos que passaram pelo coral”, recorda Jorge Elias Dolzan (ex-coralista) que completa o comentário de Kali Nardino (ex-coralista): “Frei Alfonso foi muito mais que o fundador de um coral — foi um educador, mestre e amigo que levou o nome dos Arautos além das fronteiras de Xaxim, projetando-o nacional e internacionalmente. Um verdadeiro formador de gerações, cuja conduta ética e moral moldou não apenas músicos, mas seres humanos guiados pela cultura, pela disciplina e pela fé”.
Com o passar das décadas, os Arautos do Grande Rei se consolidaram como a mais antiga instituição de ensino musical da região, representando Xaxim em apresentações estaduais, nacionais e até internacionais — como na recente viagem à Alemanha, que reafirmou a presença artística do grupo no cenário global. Desde 1975, o coral integra a Liga Artística do Alto Uruguai e, em 1979, passou a fazer parte da Federação de Meninos Cantores do Brasil, sendo reconhecido como utilidade pública municipal em 1984.
Um projeto que reaviva memórias e conecta gerações
Cinco décadas depois, o legado do frei continua ecoando. Sob a regência da maestra Giseli Linhares Felix, que há 23 anos conduz o coral, e com a coordenação de Karize Keili Rizzoto, nasceu o projeto “O Canto Coral Vivo na Cidade de Xaxim: Vivências e Vozes que Permanecem” — contemplado pelo Prêmio Circuito Catarinense de Cultura – PNAB SC 2024.
A proposta, realizada ao longo de 2025, promoveu uma jornada de reencontros e celebrações. Três grandes concertos já encantaram o público:
- “O Início de uma Tradição”, resgatando a fundação e os primeiros passos do grupo;
- “Nossas Vozes pelo Mundo”, relembrando o intercâmbio internacional na Alemanha e a universalidade da música coral;
- “Canções do Brasil”, um tributo à cultura nacional sob a orientação do professor Maurício Minozzo.
Agora, o ciclo se encerra com o concerto “Vozes que Ecoam”, que acontecerá no dia 9 de novembro, às 10h, no Salão Paroquial São Luiz, em Xaxim. Um evento aberto à comunidade e com entrada gratuita, simbolizando a união de gerações. Todos os ex-coralistas são convidados a subir novamente ao palco, em um reencontro que promete emoção e lágrimas.
A preparação incluirá um ensaio geral no sábado, 8 de novembro, no mesmo local, e contará com a presença dos convidados especiais com forte ligação à história do coral: José Alberto Batistela (cantor lírico pop) e Marcio Jose Buzatto (bacharel em Regência Coral) que destaca “Minha infância e adolescência foram vividas no Coral Arautos do Grande Rei. Ali recebi uma formação musical e humana que marcou minha vida. Cantar repertórios de alta qualidade — da renascença ao século XX, em diferentes línguas e estilos — me abriu horizontes e me levou a palcos importantes, como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro e o Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Essa vivência me inspirou a seguir a música como profissão. Participar deste reencontro é uma alegria e uma justa homenagem ao Frei Afonso, que plantou essa semente com tanto amor.”
Cultura e acessibilidade caminhando juntas
Em todas as apresentações, o projeto adotou ações de acessibilidade e inclusão, como a presença da intérprete de Libras Grecimara Alba e a produção de materiais visuais acessíveis, ampliando o alcance e a participação da comunidade. A iniciativa mostra que o acesso à cultura é também uma forma de fortalecer a identidade coletiva e a coesão social.
Para Giseli Linhares Felix, o projeto representa um ato de resistência cultural e fé: “O coral é a prova viva de que a arte transforma vidas. Continuamos cantando porque cada voz carrega a memória de quem já passou por aqui — e a esperança de quem ainda virá. As vozes que ecoam hoje são as mesmas que, há décadas, fortalecem a alma de Xaxim.”
O som que forma pessoas e constrói territórios
O Coral Arautos do Grande Rei é um exemplo concreto de como a cultura territorial cria vínculos, educa e transforma. Sua continuidade revela que a comunicação pela arte é também um ato de cooperação e pertencimento — princípios que fazem eco à essência da ComCoope, a Cooperativa de Comunicação e Proximidade Territorial.
Em tempos de transformações e dispersões, Xaxim segue reunida em torno de uma herança que não se apaga. A cada nova geração, novas vozes se unem às antigas para lembrar que a cidade é feita também de som, memória e emoção compartilhada.
E quando o público ouvir o coro entoar “Vozes que Ecoam”, não será apenas uma canção — será a voz viva de um território que aprendeu a cantar sua própria história.
Concerto de Encerramento “Vozes que Ecoam”
Data: 9 de novembro de 2025 (domingo)
Hora: 10h
Local: Salão Paroquial São Luiz – Xaxim (SC)
Entrada: Gratuita
Ensaio Geral: 8 de novembro (sábado), às 10h
Realização: Associação Coral Arautos do Grande Rei
Coordenação: Karize Keili Rizzoto
Regência e Produção Artística: Giseli Linhares Felix
Produtor Cultural: Guilherme Coveseviski
Intérprete de Libras: Grecimara Alba
Apoio: Prêmio Circuito Catarinense de Cultura – PNAB SC 2024
Comcoope apoia iniciativas culturais
A ComCoope – Cooperativa de Comunicação e Proximidade Territorial nasceu com o propósito de valorizar as expressões culturais que dão voz e identidade aos territórios. Mais do que veículos de comunicação, acreditamos em vozes vivas — aquelas que, unidas, constroem pertencimento, traduzem histórias e mantêm acesa a memória coletiva. Um coral é, por excelência, uma dessas expressões. Cada timbre, cada acorde e cada pausa revelam algo maior que a soma das vozes: revelam uma comunidade em harmonia, um território que se reconhece no som do outro. É neste lugar simbólico que a ComCoope se encontra com o Coral Arautos do Grande Rei, de Xaxim — uma instituição que há mais de cinquenta anos transforma vidas por meio da música e do espírito cooperativo. São destas vozes que precisamos falar. Das vozes que educam, que unem, que resistem. Das vozes que fazem da cultura um instrumento de identidade e do associativismo uma forma de existir coletivamente.
O autor desta matéria, Jorge Elias Dolzan, hoje integrante da ComCoope, traz nesta escrita também um eco pessoal. Ele foi coralista dos Arautos do Grande Rei nos anos 1980, quando vivia em Xaxim — experiência que o marcou profundamente e que, de certo modo, inspira o próprio propósito da cooperativa: comunicar para aproximar, cooperar para fortalecer.