A nova diretriz da Organização Mundial da Saúde marca um momento importante no enfrentamento da obesidade. Pela primeira vez, a OMS recomenda oficialmente o uso de terapias baseadas em GLP-1 como parte do tratamento de longo prazo para a doença, que afeta mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo.
A recomendação surge em um cenário de alta demanda global por medicamentos como semaglutida e tirzepatida — amplamente conhecidos por nomes comerciais como Wegovy, Ozempic e Mounjaro — e no momento em que muitos países discutem como incluir esses tratamentos nos sistemas públicos de saúde.
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Como funcionam as novas recomendações da OMS
A OMS apresentou duas recomendações principais:
1. Uso condicional dos medicamentos GLP-1 por adultos
Os medicamentos devem ser considerados para adultos com obesidade, exceto mulheres grávidas. A agência reforça que a obesidade é uma condição crônica, que exige acompanhamento contínuo, e que essas terapias podem ajudar no controle a longo prazo.
2. Associação de GLP-1 com hábitos saudáveis
A diretriz reforça que os medicamentos não substituem hábitos essenciais como alimentação equilibrada e atividade física. Eles devem integrar um cuidado completo que envolve acompanhamento médico regular e mudanças de estilo de vida.
Desafios: acesso limitado e custo elevado
Embora eficazes, as terapias com GLP-1 ainda enfrentam um obstáculo importante: o acesso.
Especialistas ouvidos pela OMS alertam que:
- Menos de 10% das pessoas que poderiam se beneficiar terão acesso aos medicamentos até 2030.
- O custo ainda é elevado para a maioria das populações.
- Sem políticas públicas, existe risco de aumento da desigualdade entre países ricos e pobres.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, reforçou que a prioridade agora é garantir acesso equitativo, ampliando a produção e reduzindo preços por meio de mecanismos como compras conjuntas — estratégia já usada em programas globais de HIV.
Quais medicamentos fazem parte da recomendação?
A diretriz da OMS inclui três terapias da classe GLP-1:
- Semaglutida
- Tirzepatida
- Liraglutida (versão mais antiga, porém ainda eficaz)
Os medicamentos são recomendados para adultos com IMC igual ou superior a 30.
Vale lembrar que, em setembro, a OMS já havia incluído semaglutida e tirzepatida na lista de medicamentos essenciais, mas apenas para o tratamento da diabetes tipo 2.
Por que a OMS decidiu agir agora?
Além da eficácia comprovada, a obesidade já representa um impacto econômico estimado em US$ 3 trilhões por ano no mundo. A doença também aumenta o risco de problemas graves como diabetes, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer.
Com a nova diretriz, a OMS pretende apoiar governos e sistemas de saúde a estruturarem programas que priorizem quem mais precisa — especialmente em países onde o acesso ainda é limitado.






