Narciso Barone – Redação Seo On
Neurocientistas desenvolveram um implante cerebral capaz de transformar sinais neurais em palavras inteiras, permitindo que pacientes se comuniquem apenas pensando no que desejam dizer. A tecnologia, conhecida como interface cérebro-computador (ICC), promete ser um avanço importante para pessoas que perderam a fala devido a doenças como esclerose lateral amiotrófica (ELA) e acidente vascular cerebral (AVC).
Como funciona o novo dispositivo
Assim como outras próteses neurais já existentes, o sistema utiliza sensores implantados no córtex motor, região do cérebro responsável por enviar comandos de movimento ao trato vocal. Esses sensores captam a atividade cerebral e, por meio de um modelo de aprendizado de máquina, decodificam os sinais para prever quais palavras o usuário está tentando dizer.
A grande inovação está no fato de que o dispositivo consegue interpretar não apenas a fala física, mas também a chamada fala interior — ou seja, quando a pessoa apenas imagina o que gostaria de falar.
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Resultados do estudo
Os testes foram realizados com quatro participantes: três diagnosticados com ELA e um com sequelas de AVC. Diferente de decodificadores anteriores, que eram limitados a poucas palavras, o novo sistema acessa um dicionário de até 125 mil termos.
Com a nova tecnologia, os pacientes conseguiram se comunicar a uma taxa de 120 a 150 palavras por minuto — próximo da velocidade natural de uma conversa — sem precisar fazer esforço físico para simular a fala.
Impacto e limitações
De acordo com a pesquisadora Erin Kunz, da Universidade de Stanford, que liderou o estudo, a experiência foi recebida com entusiasmo pelos participantes. “Havia muita empolgação com a possibilidade de se comunicarem rapidamente novamente”, afirmou.
Apesar do avanço, especialistas destacam que o dispositivo funciona apenas quando a pessoa consegue converter mentalmente a ideia do que deseja falar em um plano de articulação, algo que nem sempre é possível em casos graves de perda da fala.
Questões de privacidade
Para garantir segurança, os pesquisadores implementaram um código de parada: sempre que o usuário pensava a frase “chitty chitty bang bang”, o sistema interrompia automaticamente a transcrição.
Embora implantes cerebrais levantem preocupações sobre privacidade mental, os cientistas envolvidos reforçam que o foco da pesquisa está em soluções médicas e no impacto positivo para centenas de milhares de pessoas que vivem com limitações de comunicação.
Fonte: O Globo