Morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, o cantor e compositor Arlindo Cruz, um dos maiores nomes do samba brasileiro. A informação foi confirmada por representantes da família à imprensa. Arlindo vivia desde 2017 com sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que comprometeu severamente sua saúde e retirou o artista dos palcos.
Sete anos de luta e internações sucessivas
O AVC sofrido em março de 2017 marcou o início de uma jornada difícil. Arlindo ficou internado por 15 meses, parte desse período na UTI, e passou por 14 cirurgias, incluindo cinco na cabeça. Desde então, enfrentou inúmeras complicações médicas, como pneumonias, infecções e até uma embolia pulmonar.
Em abril de 2025, após quase 50 dias internado para tratar uma nova pneumonia, o sambista recebeu alta, mas teve uma piora no quadro dias depois. De acordo com sua esposa, Babi Cruz, Arlindo lutava contra uma bactéria resistente. “Foram mais de 30 pneumonias, então, a gente acredita que ele vai reverter mais essa”, declarou, à época. No entanto, ele já não respondia mais a estímulos.
Carreira marcada por talento, parcerias e grandes sucessos
Arlindo Cruz construiu uma carreira sólida ao longo de mais de quatro décadas dedicadas ao samba. Foi integrante do histórico Fundo de Quintal nos anos 1980, ao lado de nomes como Almir Guineto, Jorge Aragão e Sombrinha. Posteriormente, seguiu carreira solo, consolidando-se como um dos compositores mais prolíficos do gênero.
Entre os muitos sucessos que assinou estão Alto Lá, O Show Tem que Continuar, Bagaço da Laranja, Dor de Amor e Camarão que Dorme a Onda Leva. Sua obra foi gravada por artistas como Beth Carvalho, Alcione, Elza Soares, Maria Rita, Diogo Nogueira e Maíra Freitas.
No álbum Samba Meu, de 2007, Maria Rita imortalizou músicas de Arlindo como Tá Perdoado, Num Corpo Só e O Que é o Amor?. Com o filho Arlindinho, lançou em 2017 o disco Dois Arlindos, pouco antes do AVC.
Reconhecimento e homenagens
Arlindo também se destacou como compositor de sambas-enredo para escolas como Império Serrano, Vila Isabel e Grande Rio. No carnaval de 2023, foi tema do enredo do Império Serrano, desfilando com apoio da família e amigos.
Na televisão, participou do programa Esquenta (TV Globo), entre 2011 e 2017, ampliando sua popularidade. Em 2025, teve sua trajetória eternizada na biografia O Sambista Perfeito – Arlindo Cruz, escrita por Marcos Salles e lançada na Bienal do Livro do Rio. Segundo o autor, Arlindo compôs mais de 700 músicas ao longo da carreira.
Uma vida marcada pelo samba e pela resistência
Mesmo após o AVC, Arlindo demonstrava, segundo a família, desejo de viver e força para resistir. Em entrevistas, Babi Cruz relatava os cuidados com a nova rotina, incluindo sessões de fisioterapia e fonoaudiologia. “Ele queria viver”, dizia a esposa.
Com a morte de Arlindo Cruz, o samba perde um de seus maiores representantes. Sua música, no entanto, permanece viva, celebrada por diferentes gerações e reverenciada como patrimônio da cultura brasileira.