terça-feira, 19 agosto, 2025

O que acontece com o corpo quando morremos? Médicos explicam as transformações

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Narciso Barone – Redação Se On

Sonolência, falta de fome ou sede, pele seca e azulada, respiração barulhenta… a chegada da morte costuma ser marcada por sinais físicos evidentes. Reconhecê-los ajuda a tornar esse processo mais tranquilo tanto para quem parte quanto para quem fica.

Apesar de a morte ser a única certeza da vida, ainda existe pouco conhecimento sobre o que realmente acontece com o corpo quando o fim se aproxima. Segundo especialistas em cuidados paliativos ouvidos pela BBC News Brasil, até mesmo médicos recorrem, muitas vezes, a procedimentos supérfluos que não trazem benefício e podem gerar ainda mais desconforto.

A fase ativa da morte

Esse processo é chamado de fase ativa da morte, que ocorre geralmente nos últimos dias ou horas de uma pessoa. Ele é mais comum em casos de doenças de longa duração, como câncer e demência, quando os órgãos deixam de sustentar as funções vitais.

O médico Arthur Fernandes, secretário-geral da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, compara esse momento “ao apagar das luzes de um prédio ou ao desligamento das máquinas de uma fábrica”.

O desligar da terra: perda de energia e consciência

A médica Ana Claudia Quintana Arantes, referência em cuidados paliativos, explica que a primeira fase pode ser simbolizada pelo elemento terra, representando o corpo físico.

“A terra é o primeiro elemento que vai embora. Dá um cansaço estranho, que pesa nos olhos. Há também um peso no corpo. Por mais magrinho que esteja, você não consegue movimentar um braço, não consegue se virar na cama. Esse corpo pesa tanto quanto o mundo”, descreve Arantes.

O sistema digestivo entra em marcha lenta: o apetite diminui, a sede desaparece e a ida ao banheiro se torna menos frequente. A pele fica pálida, fria e, em alguns casos, azulada nas extremidades.

Ainda que sonolento, o paciente pode ouvir e sentir o toque. Por isso, especialistas recomendam conversas suaves e contato físico para proporcionar conforto.

A água que se esvai: corpo ressecado

Em seguida, vem o elemento água. O corpo passa a ressecar: boca, lábios e olhos ficam secos.
Segundo Arantes, não há necessidade de hidratação venosa, mas pequenos cuidados fazem diferença: umedecer os lábios, aplicar colírio e passar hidratante na pele.

A dor também pode se intensificar nessa fase. Fernandes explica que, “nas últimas horas de vida, essa dor pode descompensar e o paciente fica agitado, com falta de ar, enjoo e vômitos”.
Nesses casos, medicamentos como a morfina garantem alívio.

O fogo: a “melhora da morte”

Curiosamente, há quem apresente uma breve melhora antes do fim. Esse momento é chamado de “melhora da morte” ou “visita da saúde”.

“O paciente que comia muito pouco pode agora comer mais. Ele sai daquela sonolência para rever uma pessoa querida. Esse pode ser o momento em que ele consegue se despedir, dizer que ama, pedir desculpas ou perdoar alguém”, explica Fernandes.

Arantes alerta que esse tempo não deve ser desperdiçado com exames desnecessários, mas sim aproveitado para encontros e despedidas significativas.

O sopro da vida: respiração final

A última etapa está ligada ao elemento ar. A respiração perde o ritmo: às vezes rápida e curta, em outros momentos lenta e espaçada. Pode haver ruído alto, provocado pelo acúmulo de secreções na garganta.

Embora cause impacto em familiares, os médicos afirmam que isso não significa sofrimento para o paciente.

Arantes resume esse momento como um ato simbólico:

“Se nosso primeiro ato em vida é respirar, puxar o ar, o último é expirar, ou devolver esse ‘sopro sagrado’. Essa última expiração é um presente.”

Logo após, o coração para, o cérebro desliga e as células cessam suas atividades.

Por que falar sobre a morte é importante

O tabu sobre a morte ainda é grande, mas especialistas defendem que é preciso trazer o tema para o cotidiano.

“É importante que as pessoas conversem sobre isso em casa, para que possamos construir uma cultura que abraça a vida sem excluir a morte”, afirma Fernandes.

Afinal, compreender o que acontece com o corpo quando morremos é também uma forma de lidar melhor com o ciclo da vida.

Fonte: CNN Brasil

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