Por: Mayara Leite – redatora Seo On
Variedades – De Xangai a São Paulo, os bonecos Labubu se tornaram um fenômeno difícil de ignorar. Com orelhas pontudas, olhos exagerados e um sorriso travesso, essas criaturas de vinil e pelúcia dividem opiniões: há quem ache fofos, há quem os considere estranhíssimos. Mas ninguém duvida de seu sucesso, nem dos lucros impressionantes que trouxeram para sua fabricante, a chinesa Pop Mart.
A ascensão meteórica dos Labubu começou na China, mas rapidamente atravessou fronteiras. Celebridades como Lisa, do Blackpink, Kim Kardashian, Rihanna e até David Beckham ajudaram a impulsionar a popularidade dos bonecos, postando imagens com os monstrinhos nas redes sociais. O resultado? Longas filas nas lojas, revenda inflacionada e uma nova febre pop nas vitrines do mundo todo.
Um monstro carismático e caótico
Labubu nasceu da imaginação do artista Kasing Lung, nascido em Hong Kong, como parte da série The Monsters. Originalmente um personagem fictício, tornou-se também uma marca forte dentro do portfólio da Pop Mart. A descrição oficial diz que Labubu é bondoso, mas suas ações quase sempre resultam em confusã, um retrato caricato que parece ter encontrado eco em tempos de pós-pandemia e esgotamento coletivo.
A aparência peculiar do boneco mistura vinil e pelúcia, sempre com os mesmos nove dentes à mostra. Ao lado dele, surgiram outros personagens: Zimomo, Mokoko, Tycoco, todos integrantes de um universo visual reconhecível, ainda que incompreendido por muitos.
O apelo está, em parte, no mistério. Quem compra um Labubu geralmente não sabe qual personagem está adquirindo: as famosas blind boxes garantem o fator surpresa, incentivando a troca e a coleção. Para colecionadores como Desmond Tan, de Cingapura, parte da graça está justamente em tentar adivinhar o conteúdo da caixa antes de abrir. “É como um jogo. Quando consigo um modelo raro logo de cara, é como ganhar na loteria”, contou.
De loja de variedades a gigante global
A trajetória da Pop Mart é tão surpreendente quanto o sucesso dos bonecos. Criada em Pequim, em 2010, como uma modesta loja de itens baratos, a empresa apostou nas blind boxes em 2016. Os primeiros a fazer sucesso foram os bonecos Molly, mas foi com Labubu que a empresa decolou.
Em 2020, a Pop Mart estreou na bolsa de Hong Kong. Em 2024, as vendas fora da China continental já representavam quase 40% do faturamento total da marca. Hoje, a empresa opera roboshops, máquinas automáticas que vendem os bonecos, em mais de 30 países, incluindo Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Singapura.
A procura é tamanha que, em alguns lugares, a venda chegou a ser suspensa temporariamente por falta de estoque. No mercado paralelo, modelos raros de Labubu são revendidos por preços muito acima do valor original, que gira entre R$ 100 e R$ 280.
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Mais que brinquedo: símbolo da cultura pop chinesa
O sucesso dos Labubu ocorre em um momento estratégico para a China. Analistas veem na ascensão dos bonecos uma vitrine para o chamado soft power chinês, ou seja, a capacidade de influenciar o mundo por meio da cultura e do consumo.
Segundo a agência estatal Xinhua, o fenômeno Labubu mostra que a criatividade e a estética chinesas conseguem se comunicar com o mundo de forma “leve e descolada”. Não à toa, a imagem do boneco aparece ao lado de outros produtos culturais que vêm ganhando destaque global, como o game Black Myth: Wukong e o filme Nezha.
A internet, por sua vez, fez o resto. Vídeos de “unboxing” de Labubu somam milhões de visualizações. Em aeroportos, shoppings e estações de metrô, é comum ver grupos de curiosos tentando descobrir qual personagem veio na caixa. A obsessão, embora difícil de explicar, parece ter encontrado a fórmula ideal entre estética, desejo e exclusividade.
Um sucesso que não mostra sinais de desaceleração
Apesar das discussões sobre sua aparência há quem diga que são “os bonecos mais bizarros já criados”, os Labubu continuam ganhando território. Em 2025, o número de seguidores das redes da Pop Mart disparou, e as listas de espera para alguns lançamentos exclusivos já superam a marca de centenas de milhares de pessoas.
Talvez o segredo esteja justamente naquilo que os torna difíceis de definir. Nem bonitos nem feios, os Labubu despertam curiosidade, colecionismo e, principalmente, identificação em tempos em que a estética imperfeita virou linguagem global.
Para a Pop Mart, são mais que bonecos. São um fenômeno e, pelo visto, ainda com muitos capítulos pela frente.
Fonte: Portal G1