segunda-feira, 15 dezembro, 2025

Casos de sífilis em gestantes disparam no Brasil e acendem alerta

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A sífilis em gestantes no Brasil segue em ritmo acelerado de crescimento e se consolidou como um dos principais desafios da saúde pública, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados em outubro deste ano. Entre 2005 e junho de 2025, foram registrados 810.246 casos da infecção em gestantes em todo o país, acompanhando uma tendência de alta observada também em nível mundial.

A maior concentração dos diagnósticos ocorreu na Região Sudeste, responsável por 45,7% dos casos, seguida pelo Nordeste (21,1%), Sul (14,4%), Norte (10,2%) e Centro-Oeste (8,6%). Em 2024, a taxa nacional de detecção chegou a 35,4 casos por mil nascidos vivos, indicando o avanço da transmissão vertical, quando a doença é passada da mãe para o bebê durante a gestação.

Sífilis congênita é problema histórico no país

De acordo com a ginecologista Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez, integrante da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o Brasil enfrenta dificuldades para reduzir os casos de sífilis congênita desde a década de 1980.

Segundo a especialista, embora a sífilis seja uma infecção fácil de diagnosticar, rastrear e com tratamento de baixo custo, o país ainda não conseguiu alcançar uma redução significativa dos casos, especialmente entre mulheres jovens e recém-nascidos. Para ela, o aumento da infecção em pessoas em idade reprodutiva contribui diretamente para a elevação da transmissão vertical.

Falhas no diagnóstico durante o pré-natal

Um dos principais fatores apontados para o crescimento da sífilis em gestantes é o subdiagnóstico, inclusive entre profissionais de saúde. O exame mais utilizado no Brasil é o VDRL, um teste não treponêmico que permite identificar a infecção e acompanhar a resposta ao tratamento.

No entanto, a médica alerta que há erros frequentes na interpretação dos resultados. Em muitos casos, quando o teste treponêmico aparece positivo e o VDRL negativo ou com título baixo, o resultado é tratado como uma infecção antiga, sem necessidade de tratamento.

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“Esse é um erro grave”, explica Helaine. Segundo ela, a maioria das gestantes apresenta títulos baixos no exame não treponêmico, o que não elimina o risco de transmissão ao feto nem a possibilidade de reinfecção pelo parceiro sexual.

Falta de tratamento do parceiro mantém ciclo da infecção

Outro ponto crítico no controle da sífilis é a não adesão ao tratamento dos parceiros sexuais. Quando o parceiro não é tratado adequadamente, a gestante pode ser reinfectada, mantendo o risco de transmissão para o bebê.

A combinação entre diagnóstico inadequado, falhas na interpretação da sorologia do pré-natal e ausência de tratamento do casal contribui diretamente para o aumento dos casos de sífilis congênita, considerada um dos principais indicadores da qualidade da atenção pré-natal no país.

Jovens e idosos concentram novas infecções

Segundo a especialista, os grupos com maior incidência atual de sífilis e HIV no Brasil são pessoas entre 15 e 25 anos e a terceira idade. Entre os jovens, o abandono dos métodos de barreira está associado à redução do medo das infecções sexualmente transmissíveis. Já entre os idosos, o aumento da vida sexual ativa e a ausência do risco de gravidez contribuem para a menor adesão à prevenção.

Mais de 80% das gestantes infectadas não apresentam sintomas durante a gravidez, o que dificulta ainda mais a identificação da doença sem exames adequados.

Riscos da sífilis não tratada

Sem tratamento, a sífilis pode evoluir para fases mais avançadas, com lesões na pele, queda de cabelo, lesões genitais e alta circulação da bactéria no sangue. Em gestantes com sífilis recente, o risco de infecção fetal pode chegar a 100%, segundo a Febrasgo.

Com a proximidade do Carnaval, a médica alerta para o aumento do risco de contágio devido à redução do uso de preservativos. Apesar dos avanços no controle do HIV, com estratégias como a PrEP, não há prevenção medicamentosa equivalente para a sífilis, o que reforça a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.

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FONTE: Febrasgo

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