O universo do benzimento, uma prática tradicional de cura, é o protagonista do documentário “Te Benzo, Te Curo”, em breve disponível gratuitamente no YouTube. O filme, do diretor Márcio Serpa, estreou na última quarta-feira (10) e foca na sabedoria de três benzedeiras de Guatambu, no Oeste de Santa Catarina. A obra busca registrar e valorizar esse patrimônio cultural imaterial, que corre risco de desaparecimento com o passar das gerações.
As protagonistas são mulheres com saberes distintos: Maria Helena Pazim, especialista no “benzimento de costura” para ossos e músculos; Ignes Loreci Corá, conhecida pelas xaropadas para cuidados pós-parto; e Delvina Testa Zuco, que alia fitoterapia certificada à fé. O filme foi gravado em suas casas e quintais, mostrando a conexão íntima entre o ofício, a terra e a comunidade.
Mapeamento revela 38 benzedeiros ativos, mas tradição enfrenta risco
Um mapeamento realizado em 2024 no município identificou 38 benzedeiros e benzedeiras ativos, mostrando a pluralidade da prática, que atravessa catolicismo popular, espiritualidade indígena e uso de plantas. No entanto, o estudo também apontou um desafio urgente: a diminuição do interesse dos jovens em aprender e dar continuidade ao ofício, transmitido majoritariamente pela oralidade.
Para o diretor Márcio Serpa, essa é a razão da urgência do registro. “O que torna urgente registrar, valorizar e preservar essa herança imaterial é justamente o risco de que ela desapareça sem deixar vestígios”, afirmou. A urbanização e a perda de vínculos comunitários são algumas das ameaças a esses saberes.
Filme é um gesto de afeto e reconhecimento aos saberes populares
A produção, que contou com apoio da Fundação Catarinense de Cultura via Lei Aldir Blanc, foi concebida como um gesto de afeto e preservação da memória coletiva. A museóloga Lilian Fontanari, produtora executiva, destaca: “Este filme nasce do encontro entre audiovisual, antropologia e afeto. É um gesto de reconhecimento às mulheres que benzem para curar, proteger e aliviar as dores”.
Portanto, “Te Benzo, Te Curo” vai além do registro etnográfico. Ele convida a uma reflexão sobre a importância de valorizar os saberes tradicionais que compõem a identidade cultural do interior catarinense. A disponibilidade gratuita com legendas e libras amplia o acesso a esta narrativa sensível.
Em resumo, o documentário é um tributo necessário. Ele ilumina uma forma de cuidado que resiste, mesclando fé, natureza e conhecimento ancestral, e alerta para a necessidade de sua salvaguarda.
















