Pensar a moda como linguagem de troca e escuta foi o ponto de partida da ABEx III – Laboratório Experimental de Moda do curso de Moda da Unochapecó. Neste semestre, o projeto se consolidou como espaço de experimentação criativa, articulação comunitária e construção de identidades.
Identidades Vestíveis no espaço escolar
Com o tema Identidades Vestíveis – Moda no Espaço Escolar, a proposta desafiou os acadêmicos a atuarem em territórios educativos não convencionais. Em parceria com a Escola Básica Municipal em Agropecuária Demétrio Baldissarelli, conectaram processos criativos à realidade da educação do campo.
Troca sensível como ponto de partida
A troca começou com cartas manuscritas e tecidos estampados com técnicas como monotipia e carimbo, produzidos pelas turmas de Artesanato da escola (1º ao 5º ano). As crianças compartilharam fragmentos de suas vivências no campo, recebidos pelos estudantes do 3º período de Moda como base para a criação de parangolés e sulancas – peças vestíveis que mesclam arte, movimento e expressão identitária.
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Parceria inovadora entre universidade e escola
Para o professor Audrian Cassanelli, responsável pelo componente curricular, a ideia da parceria surgiu ao receber a proposta de ministrar a matéria. Professor da escola há três anos, viu no cotidiano dos alunos uma oportunidade de experiência diferenciada para levar à Universidade.
“Quando falamos em profissionais de Moda, escolas não são a primeira alternativa que vem à mente. O professor Rafael Felipe da Silva foi essencial no processo, me auxiliando a desenhar essa proposta com a instituição educacional”, conta.
Etapas e processos criativos
Os estudantes passaram por etapas de leitura sensível das cartas, pesquisa temática, desenvolvimento de técnicas artesanais, elaboração de moodboards e criação das peças. Materiais como látex líquido, placas de gel, tecidos e imagens transferidas possibilitaram produções autorais que dialogaram com os relatos das crianças. Foram criadas 20 obras vestíveis que traduziram, de forma poética e visual, a relação entre moda, identidade e território.
Ampliando a visão profissional
“Um projeto como esse amplia a visão do futuro profissional, mostrando que a área de atuação é muito mais ampla. O profissional de Moda pode atuar em escolas, organizar eventos ou estar em uma galeria de arte. Desenvolve habilidades de trabalho em equipe, escuta ativa e resolução de problemas, contribuindo para formar um profissional mais dinâmico, atento e capacitado”, aponta Audrian.
Além das peças, os 24 acadêmicos produziram 18 textos críticos, demonstrando amadurecimento no olhar sobre o papel do profissional de moda como agente de transformação.
Trevolares: corpo-casa que floresce
Para a estudante Ketruyn Arend, o projeto se tornou uma celebração das histórias contadas, vividas e compartilhadas por ela e pelas crianças. Sua obra, Trevolares, uniu módulos criados pelas crianças aos seus próprios, com retalhos de jeans e tecidos variados em formato quadrado, remetendo à estética da sulanca.
“Trevolares é um corpo-casa onde a infância ainda respira. Trouxe lembranças minhas, como procurar trevos de quatro folhas no jardim. A leveza e o movimento da peça remetem a uma flor, florescendo como símbolo de memórias que se enraízam e crescem”, conta.
Conexões entre passado e presente
Ao desenvolver sua peça, Ketruyn reviveu o tempo em que estudava em escola do interior e cuidava da natureza. Por isso, o contato com as crianças foi sua etapa favorita. “Os módulos criados por eles foram um show de criatividade. Conectar isso com minha vivência e transformar em uma peça foi emocionante e essencial para o resultado final.”
Apresentação das obras e próximos passos
As obras foram apresentadas na escola parceira, promovendo reencontro entre os materiais enviados e suas ressignificações, e no evento Fluxo Reverso, na Unochapecó. A próxima exposição será na Galeria Agostinho Duarte, no dia 28 de julho, ampliando o alcance social e sensível da experiência.
Primeiras experiências e aprendizados
Durante todo o processo, os estudantes demonstraram alta receptividade. “Vivemos muitas primeiras vezes: parceria com escola, laboratório experimental que relacionava moda com arte, trabalhos de autoria compartilhada com crianças, e até o primeiro ensaio fotográfico de muitos, com suas criações. A turma entregou um trabalho de excelência”, ressalta Audrian.
Moda como história, afeto e conexões
Para Ketruyn, este foi seu primeiro projeto autoral completo, do desenho à costura e fotografia final. “Foi um período de descobertas. Entendi que com pouco pode-se fazer muito, e que a moda deve ser sobre histórias, afeto e conexões. Aprendemos que moda não é só técnica, mas escuta, observação e tradução de sentimentos em matéria.”
Com gratidão, ela conclui: “Daqui dois anos, quando eu me formar, vou lembrar com muito carinho desse projeto. Daqui cinco, dez anos, até o fim, continuarei lembrando dele com a mesma felicidade”.