A doação de órgãos representa um gesto de amor que ultrapassa a dor do luto. Um único doador pode beneficiar diversas pessoas com rins, fígado, pulmões, coração, córneas, ossos, pele, entre outros. No Brasil, porém, esse ato só é possível com a autorização da família – mesmo que o desejo tenha sido manifestado em vida. Por isso, conversar sobre o tema com os familiares é essencial para garantir que, em um momento delicado, a vontade de salvar outras vidas seja respeitada.
A importância da conversa com a família
Após o diagnóstico de morte encefálica, a família do paciente é convidada a dialogar com a equipe hospitalar. Esse instante, apesar de doloroso, pode transformar a perda em esperança para quem aguarda na fila de transplantes.
“Conversar com sua família sobre o desejo de ser doador é um gesto de empatia – muitas vezes, essa conversa é decisiva para que a família autorize a doação”, destaca o coordenador médico da Comissão Hospitalar de Transplantes (CHT) da Unimed Chapecó, Dr. Raulério Goulart Papini.
A comissão conta com uma equipe multiprofissional responsável por organizar, orientar e executar os processos de doação. O trabalho vai desde a identificação do potencial doador até o acolhimento dos familiares e o cumprimento das diretrizes legais. “Na prática, a CHT é um elo entre os familiares de quem parte e aqueles que podem recomeçar, sempre com olhar de amparo e esperança por trás de cada história”, reforça Papini.
Esperança de recomeço: a história de Vicente
O pequeno Vicente Sgarbossa Medeiros, de apenas quatro meses, recebeu a notícia de que precisaria de um transplante de coração após a mãe, Raquel Sgarbossa Alves, perceber irritação constante e dificuldade para dormir. A princípio, os sintomas foram confundidos com uma infecção de garganta, mas exames realizados no Hospital Unimed Chapecó revelaram um quadro de miocardiopatia dilatada, doença que impede o coração de bombear sangue adequadamente.
Internado na UTI pediátrica, Vicente passou 47 dias em tratamento até ser transferido para o Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR). “Minha vida desabou quando confirmaram que a única solução seria o transplante de coração. A espera é dolorosa, cansativa e angustiante, porque não sabemos quando vai terminar”, lembra Raquel.
A notícia tão aguardada chegou em 13 de agosto de 2024: um doador compatível havia sido encontrado. “Quando o médico ligou, comecei a tremer. Ao ouvir a confirmação, chorei, gritei e pulei. Foi um alívio indescritível, uma mistura de alegria e gratidão”, relata a mãe.
A cirurgia durou cerca de nove horas e, em 7 de setembro, Vicente recebeu alta hospitalar. Atualmente, segue em recuperação, com restrições devido à baixa imunidade causada pelos imunossupressores, retornando mensalmente a Curitiba para exames de acompanhamento.
“Só temos a agradecer à família doadora, que em meio à dor disse ‘SIM’ para a doação de órgãos e possibilitou um milagre na vida do meu filho. A cicatriz no peito do Vicente mostra o quanto ele foi guerreiro. Hoje, ele tem uma nova chance de viver e está aproveitando a infância”, comemora Raquel.
Comissão Hospitalar de Transplantes da Unimed Chapecó
Coordenação médica: Dr. Raulério Goulart Papini (Medicina Intensiva)
Médico participante: Dr. Allison Piovesan (Medicina Intensiva Pediátrica)
Enfermeiros: Jean Henrique Kruger; Alcione Pozzebon; Talila Casagrande; Caroline Frillich Bringhenti; Analice Klippel; Suelen Klein
Apoio psicológico e qualidade: Micheli Bruna Caverzan (Psicóloga); Núcleo de Qualidade em Saúde